domingo, 5 de agosto de 2012

A FÁBULA DA REVOLUÇÃO

Compartilho este texto com vocês. De meu pai Francisco Porto,  o Dedéco. Uma fábula que nos remete a uma triste REALIDADE.


A FÁBULA DA REVOLUÇÃO
Francisco Porto (Dedéco)


Era uma vez um reino muito rico de um plano astral diferente, mas não tão diferente. Situava-se entre o passado, presente e o futuro. Onde o rei e os senhores do poder mandavam e desmandavam para o seu prazer e vontades. Um lugar onde o povo desgostoso e desanimado quase desistiu de reagir às injustiças cometidas. Enquanto o lucro e as fortunas dos poderosos aumentavam ou no mínimo mantinham-se nos patamares estratosféricos de sempre, o povo penava para manter o pouco que tinha. Uns poucos desejavam reagir, revolucionar, mas suas vozes não encontravam eco e eram abafadas pelos iguais na desgraça e a força dos poderosos. Por maior que fosse a revolta, o desânimo sempre superava.
Na imprensa pipocavam escândalos financeiros de deixar o diabo quicando de inveja. E a grande massa falava mal, esperneava entre si. Quando alguém começava a articular algo mais contundente, ficava praticamente sozinho. Diziam que não adiantava. O circo foi montado assim desde o início dos tempos e de uma maneira ou de outra, todos faziam parte do jogo, embora não confessassem. Precisavam de empregos para seus filhos, empréstimos para sobreviver e pagar as acumuladas dívidas.
E se precisassem de um favor pessoal de alguém importante? Não, nem pensar, não podiam queimar seu filme perante os grandões. Talvez reclamando para a imprensa. Não, não estava adiantando. Afinal, a imprensa, embora livre, também dependia de propagandas para manter-se. E como se sabe, propagandas normalmente são realizadas para aumentar a venda de produtos de empresas. E propagandas nos meios de comunicação com maior veiculação e alcance são caríssimas.
Somente empresas poderosas e ricas podem contratar esses serviços. Acreditavam que estes anunciantes fariam pressão para que tudo continuasse do mesmíssimo jeito. Os representantes de todas as classes penalizadas com os desmandos e que ainda acreditavam nas mudanças para melhor, continuavam a reunir-se para debater longamente as alternativas viáveis para a grande transformação social. As reuniões eram exaustivas, cheias de entusiasmo e discussões acaloradas com argumentações contrárias daqueles que anteriormente já tiveram suas ideias rechaçadas. O egoísmo dos egos suplantava qualquer negociação e invariavelmente o encontro terminava sem nenhuma solução possível. Além das disputas de interesses pessoais, no popular sair do perrengue e ficar numa boa, toda e qualquer possível ação que passava no crivo dos interesses e que satisfazia a maioria, mostrava-se ineficaz, pois as leis e a máquina burocrática impediam-os de progredirem nos seus planos.
Como os sonhos nunca morrem, continuavam as reuniões e os fracassos com cara de pesadelo. Pequenos e médios empresários, trabalhadores assalariados e comissionados juntamente com todas as classes exploradas participavam com voz ativa. Os homens do campo quase nunca eram ouvidos já que eram poucos votos. Embora seus produtos fossem muitos e essenciais, porém os mais baratos e com menor poder de barganha, dentro do reino e quando estava em suas mãos, porque depois de industrializados e embalados valiam no mínimo o dobro. E quando vendidos fora do reino era a preço de ouro. Sabiam da sua importância, mas eram quase sempre impedidos de opinar quando tentavam expressar suas ideias, além de serem tratados com ironia e sarcasmo. Indignados, decidiram parar com a única colaboração bem aceita pelos “colegas” de infortúnio, os alimentos, doados gentilmente para os rega-bofes das apimentadas reuniões. Os outros participantes riram daquele estranho protesto. Na reunião seguinte alguns reclamaram. Podiam pelo menos colocarem alguns tira-gostos para enganar o estomago.
Nos encontros posteriores os protestos dos participantes aumentavam vertiginosamente, e inversamente proporcional às assembleias foram esvaziando. Compareciam somente alguns gatos pingados e esfomeados, os aspirantes a membros da mesa, os pálidos membros cativos das mesas diretoras e os calejados mais corados homens do campo. Agora com vez e voz. E foi ouvindo um calejado agricultor que o presidente da mesa, quase em delírio de fome, teve a incrível visão/salvação do reino. Viu o mesmo agricultor de braços cruzados e cenho fechado envolto numa nuvem na forma da bandeira do reino. Como podiam ter sido tão cegos. Essa era a solução para tudo. Os homens do campo parando, os poderosos ficariam sem alimentos e teriam de melhorar a vida de todos no reino. Traçaram-se as estratégias e planos, entraram em contato com todos os “conspiradores”. Um artista desenhou a visão do presidente da mesa, copiaram aos milhares e espalharam os cartazes de protesto por todo o reino. E no dia estabelecido como o “dia f”, de fome, deflagram a greve.
No início os detentores do poder riram do ridículo da atitude da plebe. Diziam-se plenamente seguros porque os grandes produtores rurais supririam facilmente a demanda de alimentos necessários. Só não lembraram que os grandes produtores eram ferrenhos monoculturistas e naquele ano o grão que valia ouro era a soja e foi neste produto que investiram maciçamente no plantio. Outros produtos como trigo, arroz, milho, batata e muitos outros foram negligenciados. Normalmente era assim, plantavam onde rendia mais e o reino importavam caro os produtos de vários reinos (diziam que era para equilibrar a balança comercial, entenda-se?). Mas estes produtos agrícolas eram a base da alimentação da população e também usados para o trato de animais de corte.
Não foi preciso muito tempo e os estoques reguladores de alimentos esgotaram. Foram obrigados a aumentar extraordinariamente a importação. Tentaram confiscar os produtos dos pequenos e médios camponeses e não conseguem. Eles os haviam escondido muito bem. Os cofres começaram a esvaziar e os alimentos mesmo caríssimos começaram a sumir das prateleiras. Mesmo os mais abastados começaram a ter dificuldade de conseguir suas iguarias e o trivial. O povão nem se fala. Já viviam mal e passaram a viver o jejum do inferno. Os saques e ataques lugares aonde imaginassem que houvesse alimento aconteciam a todo instante. Revoltados ameaçavam entrar em choque com a guarda real, que também estava faminta e sem forças ou vontade de lutar.
Os poderosos debandavam do reino como ratos de navio afundando. O rei e sua comitiva não vendo alternativa. Entrega a coroa e se exila num paraíso fiscal com o qual mantinha ótimas relações financeiras. Sem governo, o presidente da mesa revolucionária assume a coroa pomposamente. Destituindo a monarquia absoluta e cria a monarquia democrática parlamentarista presidencialista socialista capitalista. O primeiro ato do democrático rei foi criar e nomear seus companheiros de mesa nos representantes do povo com um alto salário e mordomias condizentes com a relevância e magnitude do cargo. Também distribuiu as grandes propriedades e as grandes empresas para seus parentes e os digníssimos representantes da sofrida classe trabalhadora.
Para sanar a fome do novo o monarca e seus asseclas mandaram a guarda real bem alimentada, com o soldo reajustado e em dia, confiscar todos os alimentos, escondidos pelos trabalhadores da terra e os antigos companheiros de ideais. Usando de violência e o poder das armas pegaram e armazenaram esses produtos nos depósitos reias.
O rei democrata decidiu de forma magnânima e de acordo com os seus, distribuir os alimentos para o povo de acordo com sua importância e serviços prestados ao rei. Os camponeses ameaçados de perderem suas terras e meio de sustento, ficaram quase sem comida, sem dinheiro, sem ação e sem apoio. Conversaram e decidiram voltar a trabalhar e produzir os alimentos para o próximo ano. E tudo terminou como era antes. Os ricos dominantes explorando seus “semelhantes”.
Ei! Aquelas sementes foram plantadas. Quem sabe não germinam novamente?


Moral: Que tal cada um participar e nos descrever a sua?