segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os desafios da sucessão rural

Juventude camponesa

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Estado do Rio Grande do Sul existem 2.640.642 jovens, sendo que destes, 2.304.616 vivem no meio urbano e 336.026 no meio rural. Isso equivale a 12,07% de jovens rurais (de 15 a 29 anos), segundo dados do Censo IBGE 2010. Ainda, os dados estatísticos apontam para a masculinização e para o envelhecimento no campo. Quase 45 mil propriedades no Estado  não tem sucessores, isto, numa faixa de 14 a 29 anos. Encurtada essa faixa para 24 anos, são 118 mil propriedades sem descendência. Um dado alarmante partindo levando-se em conta o fato de que agricultura familiar é responsável pela produção de aproximadamente 70% dos alimentos na mesa dos brasileiros. Além disso, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de estabelecimentos rurais no Rio Grande do Sul caiu 11% entre 1985 e 2006 (último ano com informações apuradas).
A partir desta rápida exposição estatística é fácil se chegar à conclusão de que a sucessão nas propriedades é umas das questões mais preocupantes ao meio rural brasileiro, especialmente no que se trata da agricultura familiar.
Continuar na agricultura, seguir na propriedade dos pais... Mas por quê? Com que incentivos? Quais são os caminhos da agricultura familiar? Por que tantos jovens deixam o meio rural? Como mudar esse paradigma? Qual o melhor caminho? 
Partimos para essa investigação que não ficará restrita a números. Se assim prosseguisse, transformaria as pessoas em meras estatísticas, planilhas. E esta não é a ideia. Esta reportagem busca justamente debater opiniões, humanidades. Pessoas são muito mais que números. São, dentre outras coisas: emoções, anseios, sonhos, afetos, decepções. Pessoas são subjetivas.

Meu filho deve seguir na agricultura?

Marlise Tornquist, agricultora, 54 anos, moradora do Distrito de São José da Reserva, no interior de Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Suelen Barboza

Quando viemos morar aqui, começamos do zero. Começamos plantando fumo e pra mim era totalmente novo, nunca tinha trabalhado na roça, nunca tinha ido pra lavoura. Mas a gente vai aprendendo no dia-a-dia. Hoje não trocaria. Eu não me vejo morando na cidade de novo. A ideia hoje da juventude é trabalhar na cidade e morar no interior.
(Sobre os jovens deixarem o campo) Acho que engloba de tudo um pouco. Mais é a renda. Aquela criança que acompanhou todo o processo dos pais... No momento que tu tens o produto, não tem preço, quando tem preço, é por que não deu produção. Com isso aí eles vão desacorçoando. Eles tão vendo que os pais vão remando, remando e não saem daquilo ali. Então acho que é por aí. (...) É complicado falar em futuro da agricultura.



Solange Tews Petry, agricultora de Linha Henrique D’Ávila, interior de Vera Cruz - RS

Foto: Sinara Barboza

É complicado. Por que a gente está nesse meio, mas não tem como mudar isso muito. Então a gente está trabalhando, está plantando, mas não é com aquela expectativa muito grande. Na verdade a gente vai levando, mas não consegue nem fazer muitos planos. Temos sonhos e tudo, mas na verdade, a situação está tão complicada que tu não consegues fazer muitos planos, nem ter muitos sonhos. Esse ano é uma coisa, no outro tu não sabe como vai ser.
A minha filha, espero que o fumo possa melhorar e que eu possa ter condições de pagar faculdade pra ela. Por que eu não quero que ela permaneça. Infelizmente. Eu nasci e cresci e vivi no meio do fumo. Sempre trabalhei no fumo, mas tu vê que não progride pelo esforço que tu tem no dia-a-dia, tu não tem a recompensa que merecia ter. 




René Siegfrid Petry, 56 anos, (sogro de Solange) agricultor de Linha Henrique D’Ávila, interior do município de Vera Cruz - RS
Foto: Sinara Barboza

O ânimo do meu filho está ficando bastante... sinto que ele tá nervoso. Começa a ficar devendo em fumageira. Aí em vez de sair o cara se enterra mais, fica devendo mais. Então eu noto que se ele pudesse sair fora, ele estava saindo. Por que inclusive tem vizinhos que conheço, que plantava 130, 150 mil pés de fumo e hoje está plantando 25 mil pés. E foi se empregar, no negócio de caminhoneiro. E a mulher dele foi trabalhar de empregada. Planta no sábado e domingo. Não deu pra eles aguentar o tiro de plantar tanto fumo.




Janio Junkherr, 57 anos, agricultor do Distrito de São José da Reserva, interior de Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Leandro Porto

Está complicado, por que a renda está cada vez menor, pros agricultores. Pra gurizada nova é difícil. Eles querem que apareça renda. E é aí que complicam as coisas. Muitos não têm interesse. Eu tenho um filho homem (têm também três filhas mulheres. Duas são casadas e a que ainda mora em casa trabalha na cidade). A princípio ele está querendo ficar na propriedade. Não é uma área muito grande, mas alguém tem que ficar. Só que se piorar ainda mais, não sei se ele vai continuar. (...) O incentivo é muito pouco. Eles falam muito em diversificação. Diversificar também não é fácil. É cada vez mais compromisso, depende muito de venda. Planta uma coisa, mas não se consegue vender. Essa garantia ainda o fumo tem. Tem a compra garantida e um preço garantido também. Se a qualidade é boa, tem um preço razoável. Os outros produtos sempre quando dá supersafra o preço cai, e se falta no mercado, é por que a gente também não tem pra vender, não é fácil. A gente está tentando manter o que se tem, melhorando aos pouquinhos. Não dá pra forçar demais, pra não se endividar muito. A gente tem um “tambozinho” de leite. Mas é outro problema. Pequeno produtor não tem incentivo nenhum. Eles falam que tem muito incentivo pra pequeno produtor. Mas eu acho justamente o contrário. O pequeno não tem incentivo. Se tu produz cem litros de leite por dia e o outro que produz mil litros de leite por dia dá uma diferença de preço, de quem produz cem, de vinte centavos ao litro. E justamente esse seria o lucro da gente.



Nestor Fritzen, agricultor de Linha João Alves, em Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Francisco Porto

Pra produzir não está tão fácil. Por que hoje o apoio não é tanto. E a gente aqui trabalha tudo com recursos próprios. E os filhos então a gente vê. Muitos vão pra cidade. E outros se mantêm, como os meus dois, que continuaram na agricultura. E os outros buscam emprego, as firmas são perto e eles acham melhor ali. 




Ezequiel Redin, doutorando em Extensão Rural na Universidade de Santa Maria (UFSM), pesquisador na área da agricultura familiar, juventude rural e fumicultura. Também um jovem rural.
Foto: Arquivo pessoal/ Ezequiel Redin

Não vejo no ponto econômico o único cerne para o jovem permanecer ou sair do meio rural. Pra mim a questão é bem mais ampla que apenas dinheiro, apenas recurso financeiro. Acredito que está muito ligado a elementos não econômicos, como por exemplo, a sociabilidade o espaço rural, oportunidades de lazer, convívio, entretenimento, possibilidade de troca de experiências. (...) Também podemos entrar numa outra questão que é a da autonomia do jovem na gestão da propriedade. Por vezes a família é bem estruturada economicamente, mas mesmo assim, o jovem sai da propriedade. Mas daí qual é o problema? Vejo que não passa mais a ser a questão da renda, mas da autonomia do recurso. Do jovem também gerir a propriedade, ter sua própria renda. 





O que pensam especialistas e estudiosos do tema

Secretário Executivo da Associação Gaúcha das Escolas Família Agrícola, Adair Pozzebon
Está em grave risco a questão da sucessão rural e a própria agricultura familiar. O grande problema é a reprodução desse modelo de agricultura. No sentido que não se tem mais hoje, jovens que queiram permanecer na propriedade dos pais e que queiram continuar naquele sistema da produção, fruto de um projeto. A questão do êxodo, da evasão, não é um problema que começou agora. Hoje ele surge como ponto de debate e discussão. Mas é um problema que desde a década de 1950, 60, e se intensificou, fruto de um projeto de modernização da agricultura que foi colocado no nosso país. E esse projeto de modernização da agricultura é um projeto que visa o urbano.





Técnico da EMATER em Santa Cruz do Sul, Paulo Zampieri
Essa é a preocupação de todas as entidades que se envolvem com o meio rural. Isso é notório, é em Santa Cruz, em todo Brasil, enfim é uma questão até mundial. Basta ver depoimentos de pessoas conhecedoras do assunto que percorrem o Brasil e o mundo, realmente o meio rural está envelhecendo até por não ter um incentivo, um acompanhamento maior dos poderes públicos, de realmente ver os pontos que tem necessidade pra esse desenvolvimento e pra que o jovem fique no meio rural. Então acredito que se deva criar mais políticas públicas para manter esse jovem no rural. Para que ele se sinta atraído em permanecer no campo. Por que hoje o jovem é atraído pro meio urbano. É ali que está sendo feito investimentos pelos poderes públicos. 




Engenheiro Agrônomo do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Dirk Cláudio Ahrens
Foto: Ezequiel Redin

O jovem hoje tem outros interesses e outros valores que as mídias trazem pra ele e que o meio rural não oferece. O que nós vemos é que num primeiro momento ele deve ter autonomia pra fazer essa escolha. E pra que ele faça essa escolha bem feita, o estado tem que promover condições pra que o campo melhore, nas questões de estrada e acesso, melhore nas questões de informações. Hoje a telefonia celular ou internet são muito importantes para que o jovem esteja conectado. Se ele estiver distante do centro, mas conectado com outros jovens ele não tem essa sensação de isolamento que normalmente ele teria. Por outro lado, os jovens precisam de lazer no campo também. As comunidades acabaram enfraquecendo muito pela saída da população e precisam ser reforçadas no sentido de promover que o jovem se sinta a vontade. Que não só o homem fique no campo, mas que também a moça siga no meio rural. E que haja casamentos e as famílias tenham sucessão. Por que em muitos momentos, em muitos locais existe a masculinização do campo. As moças estudam mais, vão pra cidade, conseguem emprego e ficam os jovens na família, no campo e tendo uma vida que não é a desejada. Por outro lado há a necessidade que as instituições de pesquisa desenvolvam trabalhos para que a penosidade do trabalho no campo seja minimizada. Por que ninguém gosta de trabalhar pesado.



Educação como agente transformador

Um dos caminhos para frear o êxodo rural, pode ser preparar os jovens. Oferecer-lhes oportunidades, alternativas, opções ao que está posto. Nesse sentido, uma nova proposta de educação, focada nas questões do meio rural, vem adquirindo bastante força e demonstrando efetividade de resultados.
As Escolas Família Agrícola (EFA) visam trazer uma nova perspectiva de educação para o campo. Consistem num modelo diferenciado de educação para a juventude do campo, trabalham a partir da realidade vivenciada e capacitam o jovem para se tornar um empreendedor no meio rural. No Rio Grande do Sul, existem duas. Uma em Santa Cruz do Sul, a EFASC, e outra recém implantada no município de Garibaldi.
Para o secretário Executivo da Associação Gaúcha de Escolas Família Agrícola, Adair Pozzebon, estas escolas trabalham com a pedagogia da alternância e seguindo os princípios da educação no campo. Ou seja, trabalhando pra que esses jovens, antes de serem técnicos, sejam formados agricultores. “É uma visão diferente de formação. O jovem é formado pra continuar na agricultura, pra respeitar, pra valorizar o que lá está colocado. Pra perceber que para ser agricultor também é preciso estudo, também é preciso formação. As Escolas Família Agrícola meio que vem contra a maré, contra a onda de modernização que foi imposta no Brasil”.

Professor de educação física na rede pública no município de Rio Pardo, Jader Rodeghiero
Vejo primeiramente que a educação tem de ser atrelada ao modelo de desenvolvimento que tu queres para o campo. E nesse sentido as escolas do meu município, Rio Pardo, infelizmente estão sendo contraditórias. A gente não tem ainda um plano político-pedagógico vindo da mantenedora em relação à educação rural. O modelo que a gente aplica nas escolas do interior é o mesmo plano pedagógico das escolas urbanas. Com isso tu acabas fomentando cada vez mais que esse jovem rural, abandone o campo. Ele desde pequeno vem com todo conteúdo urbano, o que faz com que ele lá no fim do ensino fundamental, que são as escolas municipais, deixe o ensino fundamental e vá para o médio já procurando a zona urbana. Então tu tens toda a problemática da cultura agrícola dessa comunidade. Dou aula no Passo da Areia. Existe a cultura predominante do fumo, onde tu passas a ter agricultores se tornando fumicultores. A gente perdeu no município e na região onde dou aula a questão do agricultor. Temos muito poucos agricultores, produzindo alimentos.

Alguns sites podem ser usados como referência para pesquisas maiores sobre os temas de nossa reportagem. Abaixo você tem uma lista deles:

EMATER RS - http://www.emater.tche.br/site/index.php

Ministério do Desenvolvimento Agrário - http://www.mda.gov.br/portal/

Movimento dos Pequenos Agricultores - http://www.mpabrasil.org.br/

Movimento de Mulheres Camponesas - http://www.mmcbrasil.com.br/site/

União Nacional de Escolas Família Agrícola - http://www.unefab.org.br/

Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais - http://www.deser.org.br/

Associação dos Fumicultores do Brasil - http://www.afubra.com.br/

Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul - http://www.agricultura.rs.gov.br/

Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - http://www.efasantacruz.blogspot.com.br

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Alvino Junkherr: uma reserva de memórias

O homem que é a história viva de um lugar

Por Leandro Junhkerr Porto


“Quando eu era criança, só tinha gado e avestruz aqui”, diz Alvino.

Tarde quente de quinta-feira. O céu já anuncia a chuva de porvir. Porteira fechada. Avisto dona Ivone caminhando vagarosamente, pendurando roupa no varal. Ela fica desconfiada com minha chegada. Algumas palavras, ela percebe o rosto conhecido, ou a voz ao menos. Ivone teve sérios problemas cardíacos, e isso justifica os passos lentos. “O Seu Alvino está?”, pergunto.  “Ah, o Alvino tá lá no campo buscando o gado!”, diz.



Alvino Junkherr é daquelas figuras, pelas quais a gente de cara cria uma profunda admiração. Riso fácil, cara simpática e gestos autênticos. Aos 84 anos é homem forte, mãos grandes de agricultor, fala tranquila de quem muito já viu e viveu. Cérebro de enciclopédia, é isso. Este homem é a história viva de um lugar.

Em suas recordações, gerações de pessoas, a história dos seus antepassados imigrantes. O último que pode contar, com fatos vividos e histórias ouvidas dos “antigos”, como se deu a vinda e as primeiras experiências desse grupo de colonos alemães, numa terra inóspita e ainda selvagem.


Alguns relatos históricos



Sobretudo, Alvino Junkherr é pura memória. Relata acontecimentos de antigamente com riqueza de detalhes, quase transportando o ouvinte ao passado. Conta, por exemplo, que os três irmãos Junkherr, imigrantes vindos da Alemanha para Santa Cruz, foram: Augusto, Carlos e Fernando.

Augusto – que vem a ser bisavô de Alvino – estabeleceu-se logo onde hoje fica o bairro Arroio Grande, em Santa Cruz do Sul e trabalhou na feitura da linha férrea que ia de Santa Cruz a Rio Pardo. Carlos morava em Cerro Alegre, hoje interior de Santa Cruz, e Fernando, em Linha Alto Ferraz, atualmente interior de Vera Cruz.

Isso, até que unidos, os três irmãos puderam comprar um lote de terras, na localidade denominada São José da Reserva. “Quando os velhos vieram, essa área era meio que abandonada. Era uma fazenda do império, para criação de cavalos. Era reserva da cavalaria. Por isso, São José da Reserva. Em Rincão D’El Rei era a última estação onde Dom Pedro apeava para vir pra cá. Ele pousava em Rio Pardo, e lá ainda existe a casa”.

Cronologicamente, o neto de Alvino, filho de Oneide, repete o nome do antepassado alemão. Fica assim: Augusto (bisavó de Alvino), Guilherme (avô), Rodolfo (pai), Alvino, Oneide (filho), e novamente, Augusto, o neto.

Além disso, com os três irmãos e suas famílias, vieram da Alemanha, um tio chamado Martim e mais duas mulheres. Este tio foi o primeiro a ser enterrado no cemitério dos Junkherr, fundado na sede da família nas terras novas. Este cemitério ainda existe, conforme as fotos abaixo.

O cemitério onde foram enterrados os antepassados de Alvino Junhkerr fica localizado no 8º Distrito de Santa Cruz do Sul, São José da Reserva
Túmulos mais antigos são do final do Século XIX


Escola


Apesar das dificuldades, à época Alvino estudou bastante. Junto com outros, Rodolfo, seu pai, pagou num primeiro momento um professor que dava aula na localidade mesmo. “Quando eu era criança, não tinha aula nenhuma aqui. Então alguns pais se uniram e pagaram professor. Dava onze alunos ao todo”.

Depois, ainda menino, teve de ir estudar no Colégio Mauá, no centro de Santa Cruz. “Era época de minha irmã tomar a comunhão. Então meu pai internou-a em Santa Cruz, num colégio de meninas, e a mim no Mauá que na época era Sinodal. Mas ela não quis estudar. Ficou só no internato, aprendendo um pouco de bordado e costura, até que tomou comunhão e veio embora. Não foi no colégio. Não aceitou ir na aula. E eu fiquei oito anos interno lá.”

Alvino relatou a história de um de seus onze colegas, da primeira turma, que faleceu tragicamente. “O Seu Emílio agarrou um guri lá de Andreas, de uma família muito pobre. Tinham muitos filhos. Deram um pra ele, chamado Ricardo Lenz. Ele quase matou a laço o guri, era muito ruim, maltratava. No fim, o Ricardo fugiu pra Andreas a pé e o encontraram morto debaixo de uma árvore. Morreu por lá. Esse foi na aula conosco”.


Seu Alvino poucas vezes precisou de hospital


Alvino contando seus causos, com sua companheira dona Ivone ao lado
“Já com 84 anos, eu tinha uma hérnia. De noite, no galpão, fui arredar uma mesa pra dar mais lugar e bato bem com a virilha, na quina da mesa. Ela correu no piso e me abriu a barriga. Eu já tinha uma hérnia no umbigo, mas isso de uns dez anos. Cheguei lá no (hospital) Ana Nery pra cirurgia, fizeram anestesia e operaram. Duas horas e meia depois me levaram pra sala de recuperação. As seis e meia entrei em casa caminhando. Vim me embora, nem vi quarto, nem vi cama lá”, conta satisfeito.



E hoje…


Alvino e sua esposa Ivone moram sozinhos. Ele descreve que a conheceu no caminho do dentista. “Acho que ela foi espiar onde era o dentista que eu ia. Lá conversamos e na volta viemos juntos. Quando começamos a namorar, ela tinha 15 anos e eu 21. Mas eu não sabia que ela tinha 15 anos, achei que era mais ”, diz sorrindo. “ Casamos em 1950, 62 anos já vai fazer”.

O casal reside próximo de um cemitério, numa casa bonita, de pátio bem cuidado. Seu Alvino se refere ao local, como uma espécie de cupim: “Sempre digo pra Ivone, casal de coruja, gosta de morar em cupim”. Tiveram um casal de filhos: Oneide e Ieda. O filho mora perto, e a filha toda semana vem visitar. Oneide continua na agricultura e Ieda é artista plástica, pinta quadros, que dona Ivone mostra com orgulho.

“Eu fui de trem pra santa cruz muitas vezes. Pegava ali no Hildebrand, tinha um chalé, onde era a antiga linha férrea. O pai encostava a carroça, quando não tinha tempo de ir à cidade. Ele pegava uma toalha, abanava e o trem dava um apito. O chefe me dava a mão entre os vagões, puxava e eu ia de trem”.

Ele fala com saudades das viagens de trem, da convivência com os colegas, das andanças a cavalo e carroça. As lembranças do dia anterior, por vezes, podem não ser bem claras, a audição falhar em alguns momentos. No entanto, Alvino Junkherr lembra com detalhes, de um tempo que não volta, mas o fez pessoa rica de recordações e vivência. É de uma época, onde apesar de difíceis, as coisas eram simples, e as atitudes, verdadeiras.

Os links para trechos de áudio, com a possibilidade de ouvir online a conversa com Alvino Junkherr estão inseridos na matéria. Abaixo, seguem links para download da entrevista:






domingo, 9 de junho de 2013

Importância da comunicação no meio rural

          Bons canais de comunicação podem auxiliar a agricultura familiar no sentido de encontrar alternativas à produção de tabaco? Quais meios comunicacionais devem ser desenvolvidos para subsidiar o desenvolvimento econômico e social das propriedades rurais? Estar informado, conectado com outras realidades diminui o temor de buscar novas perspectivas à agricultura? Transmitida na edição do dia 22 de abril do programa Mundo do Tabaco, a entrevista com a pesquisadora Carlise Schneider - Pós Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS) - tratou justamente da importância da comunicação à criação de  possibilidades no meio rural. 

Para ouvir a entrevista na íntegra, clique nos links abaixo e faça o download.