Quando
a busca desenfreada pela produtividade esbarra na saúde dos trabalhadores
rurais
Por Leandro
Junhkerr Porto
O uso de substâncias químicas orgânicas
ou inorgânicas na agricultura remonta a antiguidade clássica. A partir da
“Revolução Verde”, o emprego de tais produtos aumentou, se transformando num
alarmante problema para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Associada à
utilização demasiada de agrotóxicos há o problema da destinação das suas
embalagens, as quais podem se tornar fonte de contaminação ambiental e de danos
à saúde humana (o texto deste parágrafo foi parcialmente retirado do artigo: Situação atual da utilização de agrotóxicos
e destinação de embalagens na área de proteção ambiental Estadual Rota Sol, Rio
Grande do Sul, Brasil, dos pesquisadores Damiene Boziki, Leonardo Beroldt
da Silva e Rodrigo Cambará Printes).
Apesar disso, e das diversas iniciativas à implementação de cultivos agroecológicos, a dita produção rentável, o agronegócio, anda paralelamente com a indústria de defensivos agrícolas. Agrotóxicos continuam sendo utilizados sistematicamente na agricultura. Neste sentido, surge um conflito entre as frentes envolvidas. De um lado, a produtividade garantida pelo uso de venenos, por outro a saúde dos produtores rurais e consumidores.
Nos relatórios do Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul apresenta a maior participação percentual (16,4%) do total de casos de intoxicação registrados no país. Os casos de intoxicação por agrotóxicos registrados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) são em sua grande maioria decorrentes de exposição aguda a esses produtos.
Apesar disso, e das diversas iniciativas à implementação de cultivos agroecológicos, a dita produção rentável, o agronegócio, anda paralelamente com a indústria de defensivos agrícolas. Agrotóxicos continuam sendo utilizados sistematicamente na agricultura. Neste sentido, surge um conflito entre as frentes envolvidas. De um lado, a produtividade garantida pelo uso de venenos, por outro a saúde dos produtores rurais e consumidores.
Nos relatórios do Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul apresenta a maior participação percentual (16,4%) do total de casos de intoxicação registrados no país. Os casos de intoxicação por agrotóxicos registrados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) são em sua grande maioria decorrentes de exposição aguda a esses produtos.
No mercado brasileiro estão registrados 434
ingredientes ativos, que combinados, resultam em pelo menos 2.400 formulações de
agrotóxicos utilizadas em nossas lavouras. Os responsáveis pela regulação e
controle destes produtos são os ministérios da Saúde (MS), da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Meio Ambiente (MMA). Das 50 substâncias
mais usadas em terras brasileiras, 24 já foram banidas nos Estados Unidos,
Canadá, Europa e, algumas, na Ásia. Apenas 14 delas estão em processo de
reavaliação pela Anvisa – procedimento que se arrasta desde 2008. (Dados
retirados do artigo Paraíso dos Agrotóxicos, publicado na revista Ciência Hoje, edição 296 de setembro/2012).
Em entrevista para a revista IHU Online, do Instituto Humanitas Unisinos, o doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz, Wanderlei Pignati, afirmou que “não existe uso seguro de agrotóxicos”. Pignati também observa o fato de “30 tipos de pesticidas proibidos na União Europeia continuarem sendo usados no Brasil, como o endosulfan, clorado que se aloja na gordura e, por isso, pode ser encontrado inclusive no leite materno. Mesmo com o uso de EPIs, é impossível estar imune a esses produtos”.
Em entrevista para a revista IHU Online, do Instituto Humanitas Unisinos, o doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz, Wanderlei Pignati, afirmou que “não existe uso seguro de agrotóxicos”. Pignati também observa o fato de “30 tipos de pesticidas proibidos na União Europeia continuarem sendo usados no Brasil, como o endosulfan, clorado que se aloja na gordura e, por isso, pode ser encontrado inclusive no leite materno. Mesmo com o uso de EPIs, é impossível estar imune a esses produtos”.
Os agrotóxicos podem provocar três tipos
de intoxicação:
- Aguda: os principais sintomas nas
intoxicações agudas surgem rapidamente, algumas horas após a exposição, são
nítidos e objetivos.
- Subaguda: sintomas aparecem aos
poucos. São subjetivos e vagos tais como dor de cabeça, fraqueza, mal-estar,
dor de estômago e sonolência, entre outros.
- Crônica: caracteriza-se por surgimento
tardio, após meses ou anos, por exposição pequena ou moderada a produtos
tóxicos ou a múltiplos produtos.
Agrotóxicos
e a produção de tabaco
Segundo
a tecnologista sênior da Fundação Oswaldo Cruz, Silvana Rubano Barretto Turci,
“Na fumicultura são usados diversos agrotóxicos, como herbicidas,
inseticidas, fungicidas e antibrotantes. A exposição aguda e crônica aos
agrotóxicos pode causar diversas doenças, como vários tipos de câncer, lesões
hepáticas, lesões renais, distúrbios do sistema nervoso, esterilidade
masculina, reações alérgicas, fibrose pulmonar irreversível, hiperglicemia,
entre outras”. Ainda, conforme Turci, “é importante destacar o uso de
inseticidas organofosforados e carbamatos, que são agrotóxicos
lipossolúveis (solúveis em gordura, portanto podem ficar armazenados nos
tecidos gordurosos do organismo como fígado, rins, cérebro) que podem ser
absorvidos por inalação, ingestão ou exposição dérmica”.
Nesse
contexto um dilema. Embora existam inegáveis e justas questões envolvendo a
saúde, a produção de tabaco fomenta
a economia de vários municípios dos três estados da Região Sul do Brasil.
Exemplos são polos regionais no Estado do Rio Grande do Sul, como Santa Cruz do
Sul e Venâncio Aires, dependentes essencialmente desta cultura.
A
fumicultura é organizada pelo Sistema Integrado de Produção, e através deste,
os agricultores recebem das empresas com as quais firmam contrato – em regra
grandes transnacionais - assistência técnica, insumos, e comercialização
garantida. A produção concentra-se nas pequenas propriedades de agricultores
familiares.
Conforme
o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco, Iro Schünke, “o
tabaco é a cultura comercial que menos utiliza agrotóxicos”. Além disso, Schünke
afirma que a indústria tabaqueira realiza em relação aos venenos, “não somente
a parte de conscientização, mas o melhor sistema de recolhimento de embalagens
vazias de agrotóxicos do sul do Brasil. Realizamos uma grande campanha com os
produtores para terem armários efetivamente vedados, onde guardam os
agrotóxicos, para que não haja risco de acidente com outras pessoas da família,
ou animais. Ainda, ampla campanha das empresas que disponibilizam Equipamentos
de Produção Individual (EPI) para serem usados durante o manuseio. Um grande
trabalho no sentido de minimizar o risco para o produtor e também à preservação
do meio ambiente”.
No
entanto, a tecnologista Silvana Turci pondera a existência de “estudos que apontam
haver, entre os produtores de tabaco, um maior risco de desenvolver alterações
neurocomportamentais capazes de evoluir para quadros de depressão e suicídio”. Além
disso, Silvana analisa que os organofosforados,
“causam três tipos de sequelas neurológicas: polineuropatia retardada, síndrome
intermediária e efeitos comportamentais. A polineuropatia inclui fraqueza
progressiva, perda de coordenação nas pernas, podendo evoluir até a paralisia.
Os principais sintomas da síndrome intermediária são a diarreia intensa e a
paralisia dos músculos do pescoço, das pernas e da respiração que ocorrem de
forma aguda, podendo levar ao óbito. Dentre os efeitos comportamentais
destacam-se: insônia, sono conturbado, ansiedade, retardo de reações,
dificuldade de concentração e uma variedade de sequelas psiquiátricas como
apatia, irritabilidade, depressão e esquizofrenia”.
A
visão de outros profissionais envolvidos com o tema
Intoxicação por
agrotóxicos e doença da folha verde do tabaco
Reportagem:
Qual é a atuação do CEREST?
Adriana
Skamvetsakis: O CEREST é um serviço
que atua em 68 municípios da região dos vales. Grande parte desses municípios
tem uma extensa área rural, então os agricultores, principalmente no entorno de
Santa Cruz do Sul, tem a questão dos agrotóxicos e da fumicultura muito
presente. Mas agrotóxicos, em toda região. Trabalhamos desde ações de educação,
de orientação que são feitas através de seminários, de palestras, de encontros
com os trabalhadores rurais, até ações de assistência. Nos casos em que há
necessidade, os municípios da nossa abrangência encaminham os trabalhadores
para que sejam acompanhados pela equipe do CEREST, e haja investigação dos
casos de adoecimento, seja por agrotóxicos ou pela doença da Folha Verde do
Tabaco.
Qual
é a diferença da intoxicação por agrotóxicos, para a doença da folha verde do
tabaco?
Os
sintomas dos dois quadros acabam sendo parecidos por serem gerais. Dor de
cabeça, tontura, náusea, vômitos, dor abdominal. O que nos auxilia muito na
diferenciação, é justamente a história de contato com um ou outro produto,
substância.
A
maior parte de intoxicação pela doença da folha verde do tabaco se dá no
período da colheita, pelo contato intenso com a folha do fumo. Os sintomas são
muito evidentes nesse momento. Pelo trabalhador estar muito exposto, a folha
molhada, o suor, um período muito quente do ano, enfim. Somamos aí, a exposição
com os sintomas. Pode ser feita uma confirmação da suspeita através de um exame
laboratorial, que é a dosagem deste produto sendo eliminado pela urina. Na
verdade não é a nicotina que é eliminada, ela se transforma ao ser absorvida
pela pele e é eliminada no formato de cotinina. Podemos dosar esse elemento na
urina e confirmar essa intoxicação.
No
caso dos agrotóxicos, seguimos a mesma linha de raciocínio. O trabalhador estava
trabalhando com o produto, teve contato. Preparou a calda, fez a aplicação,
entrou na lavoura logo após a aplicação, ou estava auxiliando de alguma forma,
e teve os sintomas. Então no caso da intoxicação aguda é muito parecido, por
isso temos de fazer essa diferenciação. Uma intoxicação não impede a outra.
Infelizmente o trabalhador pode ter as duas ao mesmo tempo.
Produção de agroecológicos
Reportagem: Como é conduzida a
utilização de agrotóxicos na produção de alimentos ou novas culturas. Existe
ação de agroecológicos?
Zampieri:
O trabalho que a EMATER realiza é muito forte no sentido do produtor ter o
princípio de melhoria do solo. Melhorando o solo, terá uma cultura saudável,
com menos risco de ser atacado por pragas e doenças. Então temos trabalhado
muito forte na linha dos hortigranjeiros, no uso de adubação orgânica, controle
de acidez. Há muitos recursos, para que não se precise buscar no
agroquímico o controle de pragas e doenças. No sentido tanto do uso de adubo
químico e no uso de agrotóxicos. Procuramos levar às nossas famílias, que
eles estão trabalhando com alimentos e que o consumidor final é uma pessoa
humana e quanto mais limpo esse alimento estiver, melhor. Portanto, existe um
trabalho intenso, uma das bandeiras no trabalho da entidade é a redução e
posterior eliminação do uso de agroquímicos dentro da produção de alimentos.