quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A queda do gigante

 
Eucalipto com mais de sessenta anos desabou sobre estrada e rede elétrica, e deixou moradores de São José da Reserva, interior de Santa Cruz do Sul/RS, sem luz por quatro dias. 


Temporais devastaram as localidades no interior do Vale do Rio Pardo nos últimos 14 dias. No domingo, 10 de novembro, rigorosa queda de granizo estragou casas e dizimou boa parte da produção agrícola, especialmente de tabaco, em municípios como Vera Cruz e Santa Cruz do Sul. A chuva dos dias a seguir terminou de instalar o caos, deixando estradas intransitáveis e o conserto dos danos ainda mais complicado. A situação que já era difícil tornou-se calamitosa, quando, no dia 15 do mesmo mês, temporais com ventos superiores a 100 km/h, derrubaram árvores, postes de eletricidade, destelharam casas e instalaram o horror. 


É óbvio, e seria louco quem dissesse o contrário, que não é possível frear a força de fenômenos como os que aconteceram. No entanto, catástrofes como estas, revelam problemas estruturais graves, quase sempre despercebidos por quem vivem nas cidades. Falta de manutenção das redes elétricas, postes de condução, ainda de madeira, com mais de 30 anos e fiação apodrecida pelo tempo. Estradas intransitáveis, com crateras que praticamente impossibilitam o tráfego. Abandono que é desrespeitoso às pessoas que vivem e trabalham nas localidades interioranas. Isto é inaceitável, é podre, é ridículo. E não pode ser esquecido. Quem sofre agora, na hora do voto, precisa lembrar e cobrar. Que daqui para frente, o mantra da valorização do meio rural, não seja mera promessa politiqueira de tempos eleitorais.




segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Jovens agricultores buscam alternativas na produção de hortifrutigranjeiros



Na oitava edição do Programa Mundo do Tabaco no Jornal dos Trabalhadores da Associação de Rádios Comunitárias, Abraço/RS, duas entrevistas com jovens agricultores que junto com suas famílias trabalham na produção de hortifrutigranjeiros e comercializam esses alimentos em uma feira Rural no centro do município de Santa Cruz do Sul/RS. 

Primeiro a conversa com o Daniel Goetze, de Linha Áustria, interior do município. Depois a prosa com o agricultor e feirante, Cristiano Luiz Walter, de Linha Travessa, interior de Santa Cruz do Sul.


Programa Mundo do Tabaco, a vida no campo em pauta, voz e vez à agricultura familiar. Produção, reportagem e apresentação por Leandro Junhkerr Porto, acadêmico de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul. 

Também na produção do programa, a pesquisadora Carlise Schneider, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Mundo do Tabaco - Entrevista com a agricultora Marlise Tornquist Junkherr



Nessa edição do Programa Mundo do Tabaco, em homenagem ao dia do Colono e do Motorista, comemorado em 25 de julho e também ao dia do Agricultor, festejado em 28 de julho, a entrevista com a agricultora Marlise Tornquist Junkherr. 

Conversamos sobre a vida no campo, a continuidade dos filhos na agricultura e a produção de hortaliças como alternativa de diversificação ao tabaco.

Programa Mundo do Tabaco, a vida no campo em pauta, voz e vez à agricultura familiar. Produção, reportagem e apresentação por Leandro Junhkerr Porto, acadêmico de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul. 

Também na produção do programa, a pesquisadora Carlise Schneider, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Projeto de ATER - Entrevista com Assilo Martins Corrêa Junior

Na sétima edição do Programa Mundo do Tabaco, inserida no Jornal dos Trabalhadores da Abraço, a entrevista com o Engenheiro Agrônomo Assilo Martins Corrêa Junior, Chefe de Escritório da EMATER em Santa Cruz do Sul, município da região Central do Rio Grande do Sul.

Em pauta, a chamada publica do Ministério do Desenvolvimento Agrário que possibilitou um projeto de assistência técnica e extensão rural para quatrocentas famílias de agricultores no interior do município.




Ficha Técnica: 
Produção, reportagem, edição e apresentação: Leandro Junhkerr Porto
Produção: Carlise Schneider Rudnicki

Entrevista com Camila Hasan - Extensionista de Bem-estar Social da Emater

Esta foi a sexta edição do Programa Mundo do Tabaco, inserida no Jornal dos Trabalhadores da Associação de Rádios Comunitárias no Rio Grande do Sul - Abraço/RS. Entrevista com Camila Hasan, extensionista de Bem-estar Social da Emater, no município de Santa Cruz do Sul.

Reportagem e apresentação por Leandro Junhkerr Porto. 



terça-feira, 10 de setembro de 2013

Alimentação Escolar traz alternativas à agricultura familiar

Através de verbas do PNAE, Programa de Alimentação Escolar do Governo Federal, a Cooperativa Regional de Alimentos, COOPERSANTA - que reúne agricultores familiares do município de Santa Cruz do Sul e região - produz e comercializa os alimentos utilizados na alimentação dos estudantes de três municípios da região. Iniciativa que gera renda alternativa para os produtores rurais e também qualifica a alimentação das crianças.
A reportagem a seguir foi produzida pelo acadêmico de jornalismo Leandro Junhkerr Porto e veiculada na UNISC TV, da Universidade de Santa Cruz do Sul. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quinta edição no Jornal dos Trabalhadores

Confira a quinta edição do Programa Mundo do Tabaco, veiculado no Jornal dos Trabalhadores da Abraço RS - Associação de Rádios Comunitárias. O programa também já está disponível através das Abraços estaduais, para os Estados de Santa Catarina e Paraná. 

 Nesta edição a entrevista com o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Cruz do Sul, Roque Paulus. Produção, reportagem, e apresentação, Leandro Junhkerr Porto.
   
Você pode ouvir na íntegra a edição 409 dos Jornal dos trabalhadores pelo link http://www.abracors.org.br/jornal/default.asp?idf=9501

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mundo do Tabaco no Jornal dos Trabalhadores - 3ª Edição

Confira a terceira edição do Programa Mundo do Tabaco, que foi ao ar no Jornal dos Trabalhadores da Abraço Rs, a conclusão da entrevista com o secretário executivo da Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas - AGEFAAdair Pozzebon.

Ouça, comente, curta e compartilhe nosso trabalho -  
https://www.facebook.com/MundoTabaco.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Mundo do Tabaco no Jornal dos Trabalhadores da Abraço

Agora, além da nossa edição de uma hora, nas segundas-feiras, das 12 às 13 horas, na Rádio Comunitária de Santa Cruz do Sul, 105.9 FM, temos programas "pílula", inseridos duas vezes por semana no Jornal dos Trabalhadores da Associação de Rádios Comunitárias - Abraço/RS.  O jornal sai todas as terças e sextas-feiras e é disponibilizado às rádios comunitárias transmitirem. Também fica disponível para todos ouvirem no site http://www.abracors.org.br/jornal/

Um canal democrático e direto, de reflexão e discussão, sobre tudo o que compreende a cadeia produtiva, de beneficiamento e comercialização do tabaco, além de alternativas de diversificação à agricultura familiar.
Tratamos das diversas questões que fazem parte desse contexto, como saúde, educação, acesso à informação, direitos humanos e muito mais. Isto, através de entrevistas, debates e depoimentos, envolvendo especialistas e pessoas que vivem essa realidade.


Nossa primeira edição no Jornal dos Trabalhadores da Abraço aconteceu em dois de julho e teve entrevista com a pesquisadora Carlise Schneider, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. Esta edição pode ser ouvida no link http://www.abracors.org.br/jornal/default.asp?idf=9359 .

Na nossa segunda edição no JT, a conversa com Dani Rudnicki, Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul e professor da Universidade Ritter dos Reis, a UniRitter. Abaixo, você pode ouvir online.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os desafios da sucessão rural

Juventude camponesa

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Estado do Rio Grande do Sul existem 2.640.642 jovens, sendo que destes, 2.304.616 vivem no meio urbano e 336.026 no meio rural. Isso equivale a 12,07% de jovens rurais (de 15 a 29 anos), segundo dados do Censo IBGE 2010. Ainda, os dados estatísticos apontam para a masculinização e para o envelhecimento no campo. Quase 45 mil propriedades no Estado  não tem sucessores, isto, numa faixa de 14 a 29 anos. Encurtada essa faixa para 24 anos, são 118 mil propriedades sem descendência. Um dado alarmante partindo levando-se em conta o fato de que agricultura familiar é responsável pela produção de aproximadamente 70% dos alimentos na mesa dos brasileiros. Além disso, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de estabelecimentos rurais no Rio Grande do Sul caiu 11% entre 1985 e 2006 (último ano com informações apuradas).
A partir desta rápida exposição estatística é fácil se chegar à conclusão de que a sucessão nas propriedades é umas das questões mais preocupantes ao meio rural brasileiro, especialmente no que se trata da agricultura familiar.
Continuar na agricultura, seguir na propriedade dos pais... Mas por quê? Com que incentivos? Quais são os caminhos da agricultura familiar? Por que tantos jovens deixam o meio rural? Como mudar esse paradigma? Qual o melhor caminho? 
Partimos para essa investigação que não ficará restrita a números. Se assim prosseguisse, transformaria as pessoas em meras estatísticas, planilhas. E esta não é a ideia. Esta reportagem busca justamente debater opiniões, humanidades. Pessoas são muito mais que números. São, dentre outras coisas: emoções, anseios, sonhos, afetos, decepções. Pessoas são subjetivas.

Meu filho deve seguir na agricultura?

Marlise Tornquist, agricultora, 54 anos, moradora do Distrito de São José da Reserva, no interior de Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Suelen Barboza

Quando viemos morar aqui, começamos do zero. Começamos plantando fumo e pra mim era totalmente novo, nunca tinha trabalhado na roça, nunca tinha ido pra lavoura. Mas a gente vai aprendendo no dia-a-dia. Hoje não trocaria. Eu não me vejo morando na cidade de novo. A ideia hoje da juventude é trabalhar na cidade e morar no interior.
(Sobre os jovens deixarem o campo) Acho que engloba de tudo um pouco. Mais é a renda. Aquela criança que acompanhou todo o processo dos pais... No momento que tu tens o produto, não tem preço, quando tem preço, é por que não deu produção. Com isso aí eles vão desacorçoando. Eles tão vendo que os pais vão remando, remando e não saem daquilo ali. Então acho que é por aí. (...) É complicado falar em futuro da agricultura.



Solange Tews Petry, agricultora de Linha Henrique D’Ávila, interior de Vera Cruz - RS

Foto: Sinara Barboza

É complicado. Por que a gente está nesse meio, mas não tem como mudar isso muito. Então a gente está trabalhando, está plantando, mas não é com aquela expectativa muito grande. Na verdade a gente vai levando, mas não consegue nem fazer muitos planos. Temos sonhos e tudo, mas na verdade, a situação está tão complicada que tu não consegues fazer muitos planos, nem ter muitos sonhos. Esse ano é uma coisa, no outro tu não sabe como vai ser.
A minha filha, espero que o fumo possa melhorar e que eu possa ter condições de pagar faculdade pra ela. Por que eu não quero que ela permaneça. Infelizmente. Eu nasci e cresci e vivi no meio do fumo. Sempre trabalhei no fumo, mas tu vê que não progride pelo esforço que tu tem no dia-a-dia, tu não tem a recompensa que merecia ter. 




René Siegfrid Petry, 56 anos, (sogro de Solange) agricultor de Linha Henrique D’Ávila, interior do município de Vera Cruz - RS
Foto: Sinara Barboza

O ânimo do meu filho está ficando bastante... sinto que ele tá nervoso. Começa a ficar devendo em fumageira. Aí em vez de sair o cara se enterra mais, fica devendo mais. Então eu noto que se ele pudesse sair fora, ele estava saindo. Por que inclusive tem vizinhos que conheço, que plantava 130, 150 mil pés de fumo e hoje está plantando 25 mil pés. E foi se empregar, no negócio de caminhoneiro. E a mulher dele foi trabalhar de empregada. Planta no sábado e domingo. Não deu pra eles aguentar o tiro de plantar tanto fumo.




Janio Junkherr, 57 anos, agricultor do Distrito de São José da Reserva, interior de Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Leandro Porto

Está complicado, por que a renda está cada vez menor, pros agricultores. Pra gurizada nova é difícil. Eles querem que apareça renda. E é aí que complicam as coisas. Muitos não têm interesse. Eu tenho um filho homem (têm também três filhas mulheres. Duas são casadas e a que ainda mora em casa trabalha na cidade). A princípio ele está querendo ficar na propriedade. Não é uma área muito grande, mas alguém tem que ficar. Só que se piorar ainda mais, não sei se ele vai continuar. (...) O incentivo é muito pouco. Eles falam muito em diversificação. Diversificar também não é fácil. É cada vez mais compromisso, depende muito de venda. Planta uma coisa, mas não se consegue vender. Essa garantia ainda o fumo tem. Tem a compra garantida e um preço garantido também. Se a qualidade é boa, tem um preço razoável. Os outros produtos sempre quando dá supersafra o preço cai, e se falta no mercado, é por que a gente também não tem pra vender, não é fácil. A gente está tentando manter o que se tem, melhorando aos pouquinhos. Não dá pra forçar demais, pra não se endividar muito. A gente tem um “tambozinho” de leite. Mas é outro problema. Pequeno produtor não tem incentivo nenhum. Eles falam que tem muito incentivo pra pequeno produtor. Mas eu acho justamente o contrário. O pequeno não tem incentivo. Se tu produz cem litros de leite por dia e o outro que produz mil litros de leite por dia dá uma diferença de preço, de quem produz cem, de vinte centavos ao litro. E justamente esse seria o lucro da gente.



Nestor Fritzen, agricultor de Linha João Alves, em Santa Cruz do Sul - RS
Foto: Francisco Porto

Pra produzir não está tão fácil. Por que hoje o apoio não é tanto. E a gente aqui trabalha tudo com recursos próprios. E os filhos então a gente vê. Muitos vão pra cidade. E outros se mantêm, como os meus dois, que continuaram na agricultura. E os outros buscam emprego, as firmas são perto e eles acham melhor ali. 




Ezequiel Redin, doutorando em Extensão Rural na Universidade de Santa Maria (UFSM), pesquisador na área da agricultura familiar, juventude rural e fumicultura. Também um jovem rural.
Foto: Arquivo pessoal/ Ezequiel Redin

Não vejo no ponto econômico o único cerne para o jovem permanecer ou sair do meio rural. Pra mim a questão é bem mais ampla que apenas dinheiro, apenas recurso financeiro. Acredito que está muito ligado a elementos não econômicos, como por exemplo, a sociabilidade o espaço rural, oportunidades de lazer, convívio, entretenimento, possibilidade de troca de experiências. (...) Também podemos entrar numa outra questão que é a da autonomia do jovem na gestão da propriedade. Por vezes a família é bem estruturada economicamente, mas mesmo assim, o jovem sai da propriedade. Mas daí qual é o problema? Vejo que não passa mais a ser a questão da renda, mas da autonomia do recurso. Do jovem também gerir a propriedade, ter sua própria renda. 





O que pensam especialistas e estudiosos do tema

Secretário Executivo da Associação Gaúcha das Escolas Família Agrícola, Adair Pozzebon
Está em grave risco a questão da sucessão rural e a própria agricultura familiar. O grande problema é a reprodução desse modelo de agricultura. No sentido que não se tem mais hoje, jovens que queiram permanecer na propriedade dos pais e que queiram continuar naquele sistema da produção, fruto de um projeto. A questão do êxodo, da evasão, não é um problema que começou agora. Hoje ele surge como ponto de debate e discussão. Mas é um problema que desde a década de 1950, 60, e se intensificou, fruto de um projeto de modernização da agricultura que foi colocado no nosso país. E esse projeto de modernização da agricultura é um projeto que visa o urbano.





Técnico da EMATER em Santa Cruz do Sul, Paulo Zampieri
Essa é a preocupação de todas as entidades que se envolvem com o meio rural. Isso é notório, é em Santa Cruz, em todo Brasil, enfim é uma questão até mundial. Basta ver depoimentos de pessoas conhecedoras do assunto que percorrem o Brasil e o mundo, realmente o meio rural está envelhecendo até por não ter um incentivo, um acompanhamento maior dos poderes públicos, de realmente ver os pontos que tem necessidade pra esse desenvolvimento e pra que o jovem fique no meio rural. Então acredito que se deva criar mais políticas públicas para manter esse jovem no rural. Para que ele se sinta atraído em permanecer no campo. Por que hoje o jovem é atraído pro meio urbano. É ali que está sendo feito investimentos pelos poderes públicos. 




Engenheiro Agrônomo do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Dirk Cláudio Ahrens
Foto: Ezequiel Redin

O jovem hoje tem outros interesses e outros valores que as mídias trazem pra ele e que o meio rural não oferece. O que nós vemos é que num primeiro momento ele deve ter autonomia pra fazer essa escolha. E pra que ele faça essa escolha bem feita, o estado tem que promover condições pra que o campo melhore, nas questões de estrada e acesso, melhore nas questões de informações. Hoje a telefonia celular ou internet são muito importantes para que o jovem esteja conectado. Se ele estiver distante do centro, mas conectado com outros jovens ele não tem essa sensação de isolamento que normalmente ele teria. Por outro lado, os jovens precisam de lazer no campo também. As comunidades acabaram enfraquecendo muito pela saída da população e precisam ser reforçadas no sentido de promover que o jovem se sinta a vontade. Que não só o homem fique no campo, mas que também a moça siga no meio rural. E que haja casamentos e as famílias tenham sucessão. Por que em muitos momentos, em muitos locais existe a masculinização do campo. As moças estudam mais, vão pra cidade, conseguem emprego e ficam os jovens na família, no campo e tendo uma vida que não é a desejada. Por outro lado há a necessidade que as instituições de pesquisa desenvolvam trabalhos para que a penosidade do trabalho no campo seja minimizada. Por que ninguém gosta de trabalhar pesado.



Educação como agente transformador

Um dos caminhos para frear o êxodo rural, pode ser preparar os jovens. Oferecer-lhes oportunidades, alternativas, opções ao que está posto. Nesse sentido, uma nova proposta de educação, focada nas questões do meio rural, vem adquirindo bastante força e demonstrando efetividade de resultados.
As Escolas Família Agrícola (EFA) visam trazer uma nova perspectiva de educação para o campo. Consistem num modelo diferenciado de educação para a juventude do campo, trabalham a partir da realidade vivenciada e capacitam o jovem para se tornar um empreendedor no meio rural. No Rio Grande do Sul, existem duas. Uma em Santa Cruz do Sul, a EFASC, e outra recém implantada no município de Garibaldi.
Para o secretário Executivo da Associação Gaúcha de Escolas Família Agrícola, Adair Pozzebon, estas escolas trabalham com a pedagogia da alternância e seguindo os princípios da educação no campo. Ou seja, trabalhando pra que esses jovens, antes de serem técnicos, sejam formados agricultores. “É uma visão diferente de formação. O jovem é formado pra continuar na agricultura, pra respeitar, pra valorizar o que lá está colocado. Pra perceber que para ser agricultor também é preciso estudo, também é preciso formação. As Escolas Família Agrícola meio que vem contra a maré, contra a onda de modernização que foi imposta no Brasil”.

Professor de educação física na rede pública no município de Rio Pardo, Jader Rodeghiero
Vejo primeiramente que a educação tem de ser atrelada ao modelo de desenvolvimento que tu queres para o campo. E nesse sentido as escolas do meu município, Rio Pardo, infelizmente estão sendo contraditórias. A gente não tem ainda um plano político-pedagógico vindo da mantenedora em relação à educação rural. O modelo que a gente aplica nas escolas do interior é o mesmo plano pedagógico das escolas urbanas. Com isso tu acabas fomentando cada vez mais que esse jovem rural, abandone o campo. Ele desde pequeno vem com todo conteúdo urbano, o que faz com que ele lá no fim do ensino fundamental, que são as escolas municipais, deixe o ensino fundamental e vá para o médio já procurando a zona urbana. Então tu tens toda a problemática da cultura agrícola dessa comunidade. Dou aula no Passo da Areia. Existe a cultura predominante do fumo, onde tu passas a ter agricultores se tornando fumicultores. A gente perdeu no município e na região onde dou aula a questão do agricultor. Temos muito poucos agricultores, produzindo alimentos.

Alguns sites podem ser usados como referência para pesquisas maiores sobre os temas de nossa reportagem. Abaixo você tem uma lista deles:

EMATER RS - http://www.emater.tche.br/site/index.php

Ministério do Desenvolvimento Agrário - http://www.mda.gov.br/portal/

Movimento dos Pequenos Agricultores - http://www.mpabrasil.org.br/

Movimento de Mulheres Camponesas - http://www.mmcbrasil.com.br/site/

União Nacional de Escolas Família Agrícola - http://www.unefab.org.br/

Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais - http://www.deser.org.br/

Associação dos Fumicultores do Brasil - http://www.afubra.com.br/

Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul - http://www.agricultura.rs.gov.br/

Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - http://www.efasantacruz.blogspot.com.br

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Alvino Junkherr: uma reserva de memórias

O homem que é a história viva de um lugar

Por Leandro Junhkerr Porto


“Quando eu era criança, só tinha gado e avestruz aqui”, diz Alvino.

Tarde quente de quinta-feira. O céu já anuncia a chuva de porvir. Porteira fechada. Avisto dona Ivone caminhando vagarosamente, pendurando roupa no varal. Ela fica desconfiada com minha chegada. Algumas palavras, ela percebe o rosto conhecido, ou a voz ao menos. Ivone teve sérios problemas cardíacos, e isso justifica os passos lentos. “O Seu Alvino está?”, pergunto.  “Ah, o Alvino tá lá no campo buscando o gado!”, diz.



Alvino Junkherr é daquelas figuras, pelas quais a gente de cara cria uma profunda admiração. Riso fácil, cara simpática e gestos autênticos. Aos 84 anos é homem forte, mãos grandes de agricultor, fala tranquila de quem muito já viu e viveu. Cérebro de enciclopédia, é isso. Este homem é a história viva de um lugar.

Em suas recordações, gerações de pessoas, a história dos seus antepassados imigrantes. O último que pode contar, com fatos vividos e histórias ouvidas dos “antigos”, como se deu a vinda e as primeiras experiências desse grupo de colonos alemães, numa terra inóspita e ainda selvagem.


Alguns relatos históricos



Sobretudo, Alvino Junkherr é pura memória. Relata acontecimentos de antigamente com riqueza de detalhes, quase transportando o ouvinte ao passado. Conta, por exemplo, que os três irmãos Junkherr, imigrantes vindos da Alemanha para Santa Cruz, foram: Augusto, Carlos e Fernando.

Augusto – que vem a ser bisavô de Alvino – estabeleceu-se logo onde hoje fica o bairro Arroio Grande, em Santa Cruz do Sul e trabalhou na feitura da linha férrea que ia de Santa Cruz a Rio Pardo. Carlos morava em Cerro Alegre, hoje interior de Santa Cruz, e Fernando, em Linha Alto Ferraz, atualmente interior de Vera Cruz.

Isso, até que unidos, os três irmãos puderam comprar um lote de terras, na localidade denominada São José da Reserva. “Quando os velhos vieram, essa área era meio que abandonada. Era uma fazenda do império, para criação de cavalos. Era reserva da cavalaria. Por isso, São José da Reserva. Em Rincão D’El Rei era a última estação onde Dom Pedro apeava para vir pra cá. Ele pousava em Rio Pardo, e lá ainda existe a casa”.

Cronologicamente, o neto de Alvino, filho de Oneide, repete o nome do antepassado alemão. Fica assim: Augusto (bisavó de Alvino), Guilherme (avô), Rodolfo (pai), Alvino, Oneide (filho), e novamente, Augusto, o neto.

Além disso, com os três irmãos e suas famílias, vieram da Alemanha, um tio chamado Martim e mais duas mulheres. Este tio foi o primeiro a ser enterrado no cemitério dos Junkherr, fundado na sede da família nas terras novas. Este cemitério ainda existe, conforme as fotos abaixo.

O cemitério onde foram enterrados os antepassados de Alvino Junhkerr fica localizado no 8º Distrito de Santa Cruz do Sul, São José da Reserva
Túmulos mais antigos são do final do Século XIX


Escola


Apesar das dificuldades, à época Alvino estudou bastante. Junto com outros, Rodolfo, seu pai, pagou num primeiro momento um professor que dava aula na localidade mesmo. “Quando eu era criança, não tinha aula nenhuma aqui. Então alguns pais se uniram e pagaram professor. Dava onze alunos ao todo”.

Depois, ainda menino, teve de ir estudar no Colégio Mauá, no centro de Santa Cruz. “Era época de minha irmã tomar a comunhão. Então meu pai internou-a em Santa Cruz, num colégio de meninas, e a mim no Mauá que na época era Sinodal. Mas ela não quis estudar. Ficou só no internato, aprendendo um pouco de bordado e costura, até que tomou comunhão e veio embora. Não foi no colégio. Não aceitou ir na aula. E eu fiquei oito anos interno lá.”

Alvino relatou a história de um de seus onze colegas, da primeira turma, que faleceu tragicamente. “O Seu Emílio agarrou um guri lá de Andreas, de uma família muito pobre. Tinham muitos filhos. Deram um pra ele, chamado Ricardo Lenz. Ele quase matou a laço o guri, era muito ruim, maltratava. No fim, o Ricardo fugiu pra Andreas a pé e o encontraram morto debaixo de uma árvore. Morreu por lá. Esse foi na aula conosco”.


Seu Alvino poucas vezes precisou de hospital


Alvino contando seus causos, com sua companheira dona Ivone ao lado
“Já com 84 anos, eu tinha uma hérnia. De noite, no galpão, fui arredar uma mesa pra dar mais lugar e bato bem com a virilha, na quina da mesa. Ela correu no piso e me abriu a barriga. Eu já tinha uma hérnia no umbigo, mas isso de uns dez anos. Cheguei lá no (hospital) Ana Nery pra cirurgia, fizeram anestesia e operaram. Duas horas e meia depois me levaram pra sala de recuperação. As seis e meia entrei em casa caminhando. Vim me embora, nem vi quarto, nem vi cama lá”, conta satisfeito.



E hoje…


Alvino e sua esposa Ivone moram sozinhos. Ele descreve que a conheceu no caminho do dentista. “Acho que ela foi espiar onde era o dentista que eu ia. Lá conversamos e na volta viemos juntos. Quando começamos a namorar, ela tinha 15 anos e eu 21. Mas eu não sabia que ela tinha 15 anos, achei que era mais ”, diz sorrindo. “ Casamos em 1950, 62 anos já vai fazer”.

O casal reside próximo de um cemitério, numa casa bonita, de pátio bem cuidado. Seu Alvino se refere ao local, como uma espécie de cupim: “Sempre digo pra Ivone, casal de coruja, gosta de morar em cupim”. Tiveram um casal de filhos: Oneide e Ieda. O filho mora perto, e a filha toda semana vem visitar. Oneide continua na agricultura e Ieda é artista plástica, pinta quadros, que dona Ivone mostra com orgulho.

“Eu fui de trem pra santa cruz muitas vezes. Pegava ali no Hildebrand, tinha um chalé, onde era a antiga linha férrea. O pai encostava a carroça, quando não tinha tempo de ir à cidade. Ele pegava uma toalha, abanava e o trem dava um apito. O chefe me dava a mão entre os vagões, puxava e eu ia de trem”.

Ele fala com saudades das viagens de trem, da convivência com os colegas, das andanças a cavalo e carroça. As lembranças do dia anterior, por vezes, podem não ser bem claras, a audição falhar em alguns momentos. No entanto, Alvino Junkherr lembra com detalhes, de um tempo que não volta, mas o fez pessoa rica de recordações e vivência. É de uma época, onde apesar de difíceis, as coisas eram simples, e as atitudes, verdadeiras.

Os links para trechos de áudio, com a possibilidade de ouvir online a conversa com Alvino Junkherr estão inseridos na matéria. Abaixo, seguem links para download da entrevista:






domingo, 9 de junho de 2013

Importância da comunicação no meio rural

          Bons canais de comunicação podem auxiliar a agricultura familiar no sentido de encontrar alternativas à produção de tabaco? Quais meios comunicacionais devem ser desenvolvidos para subsidiar o desenvolvimento econômico e social das propriedades rurais? Estar informado, conectado com outras realidades diminui o temor de buscar novas perspectivas à agricultura? Transmitida na edição do dia 22 de abril do programa Mundo do Tabaco, a entrevista com a pesquisadora Carlise Schneider - Pós Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS) - tratou justamente da importância da comunicação à criação de  possibilidades no meio rural. 

Para ouvir a entrevista na íntegra, clique nos links abaixo e faça o download. 

domingo, 19 de maio de 2013

Ações antitabagistas realmente visam extinguir a produção de tabaco?

Foto: Fernando Franco
"Trabalhamos com três políticas prioritárias. Uma é a proibição total da propaganda e patrocínio de cigarro, outra é a proibição do fumo em ambientes fechados, a questão das leis antifumo. A outra, é o aumento do preço e impostos do cigarro", diz a jornalista Daniela Guedes.

        No programa transmitido em seis de maio, entrevista com a jornalista Daniela Guedes, da Aliança de Controle do Tabagismo - ACTBR. Em pauta, a questão da saúde, do antitabagismo em relação à importância socioeconômica da produção de tabaco. A jornalista esclarece os objetivos da ACT e também seu papel no sentido de implementar a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. 

        A conversa foi gravada durante reunião regional da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias - ABRAÇO/RS, realizada no dia quatro de maio, no Sindicato dos Bancários, em Santa Cruz do Sul. Daniela participou das atividades, acompanhada da pesquisadora Carlise Schneider, da Universidade Federal do Rio Grande Sul - UFRGS

        Clique aqui e ouça a entrevista online. Se preferir, nos links abaixo você também pode fazer o download. 

A ACTBR

        A Aliança de Controle do Tabagismo é uma organização não-governamental - ONG voltada à promoção de ações para a diminuição do impacto sanitário, social, ambiental e econômico gerado pela produção, consumo e exposição à fumaça do tabaco. É composta por representantes da sociedade civil comprometidos com o controle da epidemia tabagística. (Texto extraído do site da ONG, clique aqui e conheça mais). 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Agrotóxicos: um mal necessário?

Quando a busca desenfreada pela produtividade esbarra na saúde dos trabalhadores rurais


         O uso de substâncias químicas orgânicas ou inorgânicas na agricultura remonta a antiguidade clássica. A partir da “Revolução Verde”, o emprego de tais produtos aumentou, se transformando num alarmante problema para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Associada à utilização demasiada de agrotóxicos há o problema da destinação das suas embalagens, as quais podem se tornar fonte de contaminação ambiental e de danos à saúde humana (o texto deste parágrafo foi parcialmente retirado do artigo: Situação atual da utilização de agrotóxicos e destinação de embalagens na área de proteção ambiental Estadual Rota Sol, Rio Grande do Sul, Brasil, dos pesquisadores Damiene Boziki, Leonardo Beroldt da Silva e Rodrigo Cambará Printes).
         Apesar disso, e das diversas iniciativas à implementação de cultivos agroecológicos, a dita produção rentável, o agronegócio, anda paralelamente com a indústria de defensivos agrícolas. Agrotóxicos continuam sendo utilizados sistematicamente na agricultura. Neste sentido, surge um conflito entre as frentes envolvidas. De um lado, a produtividade garantida pelo uso de venenos, por outro a saúde dos produtores rurais e consumidores.
         Nos relatórios do Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul apresenta a maior participação percentual (16,4%) do total de casos de intoxicação registrados no país. Os casos de intoxicação por agrotóxicos registrados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) são em sua grande maioria decorrentes de exposição aguda a esses produtos.
No mercado brasileiro estão registrados 434 ingredientes ativos, que combinados, resultam em pelo menos 2.400 formulações de agrotóxicos utilizadas em nossas lavouras. Os responsáveis pela regulação e controle destes produtos são os ministérios da Saúde (MS), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Meio Ambiente (MMA). Das 50 substâncias mais usadas em terras brasileiras, 24 já foram banidas nos Estados Unidos, Canadá, Europa e, algumas, na Ásia. Apenas 14 delas estão em processo de reavaliação pela Anvisa – procedimento que se arrasta desde 2008. (Dados retirados do artigo Paraíso dos Agrotóxicos, publicado na revista Ciência Hoje, edição 296 de setembro/2012).
         Em entrevista para a revista IHU Online, do Instituto Humanitas Unisinos, o doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz, Wanderlei Pignati, afirmou que “não existe uso seguro de agrotóxicos”. Pignati também observa o fato de “30 tipos de pesticidas proibidos na União Europeia continuarem sendo usados no Brasil, como o endosulfan, clorado que se aloja na gordura e, por isso, pode ser encontrado inclusive no leite materno. Mesmo com o uso de EPIs, é impossível estar imune a esses produtos”.
Os agrotóxicos podem provocar três tipos de intoxicação:
- Aguda: os principais sintomas nas intoxicações agudas surgem rapidamente, algumas horas após a exposição, são nítidos e objetivos.
- Subaguda: sintomas aparecem aos poucos. São subjetivos e vagos tais como dor de cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estômago e sonolência, entre outros.
- Crônica: caracteriza-se por surgimento tardio, após meses ou anos, por exposição pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos produtos.

Agrotóxicos e a produção de tabaco

Segundo a tecnologista sênior da Fundação Oswaldo Cruz, Silvana Rubano Barretto Turci, “Na fumicultura são usados diversos agrotóxicos, como herbicidas, inseticidas, fungicidas e antibrotantes. A exposição aguda e crônica aos agrotóxicos pode causar diversas doenças, como vários tipos de câncer, lesões hepáticas, lesões renais, distúrbios do sistema nervoso, esterilidade masculina, reações alérgicas, fibrose pulmonar irreversível, hiperglicemia, entre outras”. Ainda, conforme Turci, “é importante destacar o uso de inseticidas organofosforados e carbamatos, que são agrotóxicos lipossolúveis (solúveis em gordura, portanto podem ficar armazenados nos tecidos gordurosos do organismo como fígado, rins, cérebro) que podem ser absorvidos por inalação, ingestão ou exposição dérmica”.
Nesse contexto um dilema. Embora existam inegáveis e justas questões envolvendo a saúde, a produção de tabaco fomenta a economia de vários municípios dos três estados da Região Sul do Brasil. Exemplos são polos regionais no Estado do Rio Grande do Sul, como Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, dependentes essencialmente desta cultura.
A fumicultura é organizada pelo Sistema Integrado de Produção, e através deste, os agricultores recebem das empresas com as quais firmam contrato – em regra grandes transnacionais - assistência técnica, insumos, e comercialização garantida. A produção concentra-se nas pequenas propriedades de agricultores familiares.
Conforme o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco, Iro Schünke, “o tabaco é a cultura comercial que menos utiliza agrotóxicos”. Além disso, Schünke afirma que a indústria tabaqueira realiza em relação aos venenos, “não somente a parte de conscientização, mas o melhor sistema de recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos do sul do Brasil. Realizamos uma grande campanha com os produtores para terem armários efetivamente vedados, onde guardam os agrotóxicos, para que não haja risco de acidente com outras pessoas da família, ou animais. Ainda, ampla campanha das empresas que disponibilizam Equipamentos de Produção Individual (EPI) para serem usados durante o manuseio. Um grande trabalho no sentido de minimizar o risco para o produtor e também à preservação do meio ambiente”.
No entanto, a tecnologista Silvana Turci pondera a existência de “estudos que apontam haver, entre os produtores de tabaco, um maior risco de desenvolver alterações neurocomportamentais capazes de evoluir para quadros de depressão e suicídio”. Além disso, Silvana analisa que os organofosforados, “causam três tipos de sequelas neurológicas: polineuropatia retardada, síndrome intermediária e efeitos comportamentais. A polineuropatia inclui fraqueza progressiva, perda de coordenação nas pernas, podendo evoluir até a paralisia. Os principais sintomas da síndrome intermediária são a diarreia intensa e a paralisia dos músculos do pescoço, das pernas e da respiração que ocorrem de forma aguda, podendo levar ao óbito. Dentre os efeitos comportamentais destacam-se: insônia, sono conturbado, ansiedade, retardo de reações, dificuldade de concentração e uma variedade de sequelas psiquiátricas como apatia, irritabilidade, depressão e esquizofrenia”.

A visão de outros profissionais envolvidos com o tema
Intoxicação por agrotóxicos e doença da folha verde do tabaco


Reportagem: Qual é a atuação do CEREST?
Adriana Skamvetsakis: O CEREST é um serviço que atua em 68 municípios da região dos vales. Grande parte desses municípios tem uma extensa área rural, então os agricultores, principalmente no entorno de Santa Cruz do Sul, tem a questão dos agrotóxicos e da fumicultura muito presente. Mas agrotóxicos, em toda região. Trabalhamos desde ações de educação, de orientação que são feitas através de seminários, de palestras, de encontros com os trabalhadores rurais, até ações de assistência. Nos casos em que há necessidade, os municípios da nossa abrangência encaminham os trabalhadores para que sejam acompanhados pela equipe do CEREST, e haja investigação dos casos de adoecimento, seja por agrotóxicos ou pela doença da Folha Verde do Tabaco.

Qual é a diferença da intoxicação por agrotóxicos, para a doença da folha verde do tabaco?
Os sintomas dos dois quadros acabam sendo parecidos por serem gerais. Dor de cabeça, tontura, náusea, vômitos, dor abdominal. O que nos auxilia muito na diferenciação, é justamente a história de contato com um ou outro produto, substância.
A maior parte de intoxicação pela doença da folha verde do tabaco se dá no período da colheita, pelo contato intenso com a folha do fumo. Os sintomas são muito evidentes nesse momento. Pelo trabalhador estar muito exposto, a folha molhada, o suor, um período muito quente do ano, enfim. Somamos aí, a exposição com os sintomas. Pode ser feita uma confirmação da suspeita através de um exame laboratorial, que é a dosagem deste produto sendo eliminado pela urina. Na verdade não é a nicotina que é eliminada, ela se transforma ao ser absorvida pela pele e é eliminada no formato de cotinina. Podemos dosar esse elemento na urina e confirmar essa intoxicação.
No caso dos agrotóxicos, seguimos a mesma linha de raciocínio. O trabalhador estava trabalhando com o produto, teve contato. Preparou a calda, fez a aplicação, entrou na lavoura logo após a aplicação, ou estava auxiliando de alguma forma, e teve os sintomas. Então no caso da intoxicação aguda é muito parecido, por isso temos de fazer essa diferenciação. Uma intoxicação não impede a outra. Infelizmente o trabalhador pode ter as duas ao mesmo tempo.
           
Produção de agroecológicos

Reportagem: Como é conduzida a utilização de agrotóxicos na produção de alimentos ou novas culturas. Existe ação de agroecológicos?
Zampieri: O trabalho que a EMATER realiza é muito forte no sentido do produtor ter o princípio de melhoria do solo. Melhorando o solo, terá uma cultura saudável, com menos risco de ser atacado por pragas e doenças. Então temos trabalhado muito forte na linha dos hortigranjeiros, no uso de adubação orgânica, controle de acidez. Há muitos recursos, para que não se precise buscar no agroquímico o controle de pragas e doenças. No sentido tanto do uso de adubo químico e no uso de agrotóxicos. Procuramos levar às nossas famílias, que eles estão trabalhando com alimentos e que o consumidor final é uma pessoa humana e quanto mais limpo esse alimento estiver, melhor. Portanto, existe um trabalho intenso, uma das bandeiras no trabalho da entidade é a redução e posterior eliminação do uso de agroquímicos dentro da produção de alimentos.